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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bairros do Concelho da Amadora 

Santa Filomena

Este bairro que começou por ser de génese ilegal (há 14 anos), composto por edifícios de um ou dois pisos em alvenaria e cobertura de zinco, conta agora com cerca de 500 fogos, organizados numa encosta. Como com o realojamento os problemas das habitações são transferidos para a Câmara, e como o bairro não apresenta nenhum risco de desmoronamento, a Câmara Municipal da Amadora optou economicamente por não realojar as famílias, e equipou o bairro com electricidade, água, saneamento, pavimentação e telefone, como uma solução provisória mas que não tem perspectivas de realojamento nos próximos anos. É composto maioritariamente por famílias Cabo-Verdianas já nacionalizadas, de segunda e terceira geração. Os seus moradores, com condições de conforto aceitáveis, já não sonham em lutar por uma melhor vida para sair do bairro. Apesar do mau estado das habitações e da classe baixa que constitui o bairro de Santa Filomena, é engraçado constatar que as antenas parabólicas estão presentes em todas as casas. São territórios silenciosos, não só pela calma que está instalada às 10h30 da manhã – altura em que os seus habitantes ou estão a trabalhar fora do bairro ou estão ainda a dormir – mas também por ser um bairro escondido, de génese ilegal, onde só vai lá quem habita. A sua localização, e a falta de equipamentos e de comércio não fazem dele um território de passagem, e por isso a vida deste bairro resume-se às pessoas que nele habitam. Tem uma escola no meio do bairro, o que faz com que haja crianças que aos 9 anos nunca tenham saído do bairro, e nunca tenham visto outra realidade.
Estivemos no Espaço Jovem, do Projecto Escolhas, onde foi possível ficar a conhecer os problemas do bairro e dos seus habitantes, por parte dos responsáveis do Espaço e da Técnica da CMA. Quando abandonámos o bairro, a única saída/entrada do bairro já estava a ser controlada por um grupo de jovens que provavelmente optaram pelo abandono escolar – muito frequente neste bairro.

A importância do local, da topografia e dos acessos ao bairro.



Casal da Boba

Este “bairro exemplar”, construído em 2001 para realojar as famílias do bairro de Fontaínhas, foi feito em regime de vendas e arrendamentos controlados segundo rendimentos. Esta mistura de famílias de classes diferentes (as que compraram um apartamento e as que arrendam à Câmara) é vista pela CMA com uma boa orientação a ter em realojamentos nos próximos, pois permite a diversidade nos moradores do bairro. Também se optou por inserir no bairro equipamentos como biblioteca, serviço de finanças e segurança social, de modo a obrigar os habitantes do Concelho da Amadora a dirigirem-se ao bairro, o que, aliado ao pequeno comércio e associações representadas nos pisos térreos, faz com que seja um bairro com vida. Este bairro está dotado de uma grande praça onde se realizam alguns eventos culturais, e em que o mobiliário urbano ainda se encontra em bom estado. Aliás, é de notar que este tem pouca ou degradação – típica de bairros sociais – como grafitis e tags, o que seria de esperar dos jovens em fase de afirmação: “este é o meu bairro”.
No entanto, todos os apartamentos de regime de venda encontravam-se concentrados nos lotes de entrada do bairro, assim como os principais equipamentos, o que faz com que haja uma aparente falsa mistura. O facto de haver várias associações sediadas no bairro também faz com que as pessoas que se dirigem a elas só o fazem se e quando têm problemas, ao contrário do que aconteceria se esses espaços fossem de comércio. Notou-se que havia diferença na vivência das duas zonas do bairro, a zona próxima dos acessos, e na “ponta” do bairro.

Importância dos equipamentos. Heterogeneidade. Distribuição da heterogeneidade. A qualidade a baixo-custo.



Casal do Silva

No bairro de Casal do Silva é possível encontra três tipos de construção: em cooperativa (com cerca de 15 anos), dispersos (2003) e realojamento (2006). Os lotes de realojamento são todos habitados por famílias de etnia cigana, que assim que se instalaram encheram as ruas de estendais, e trouxeram cadeiras e sofás para a entrada dos edifícios e para a praça, que está frequentemente ocupada quando há casamentos ou romarias. Os lotes de construção dispersa encontram-se surpreendentemente bem integrados no bairro, pela sua arquitectura muito semelhante à previamente existente. Uma coabitação forçada entre os moradores de etnia cigana e os moradores dos lotes de cooperativa, que se queixam dos problemas que os primeiros causam neste bairro de 284 fogos.
É impressionante a diferença do estado de conservação dos lotes de cooperativa dos de realojamento. Os primeiros pareciam não ter mais de 3 anos, e os segundos, já muito degradados, com portas partidas e pinturas nas paredes, pareciam tem pelo menos 10 anos. Havia vestígios de um equipamento (campo multi-jogos?) no meio da praça, mas que foi todo destruído. Incomparável o estado deste bairro com o do Casal da Boba.
Ainda de manhã era possível sentir a vivência dos moradores na praça e nos cafés, que na sua maioria são [tecnicamente] desempregados.

Adequação do projecto, equipamentos e mobiliário urbano às etnias. Apropriação de Espaço Público.



Brandoa

A Brandoa começou por ser um bairro clandestino, o primeiro de construção em altura em Portugal nas décadas de 60 e 70. Os seus primeiros moradores eram de origem alentejana, e ainda hoje lá habitam com segundas e terceiras gerações. Há uma nítida noção de vizinhança e de simpatia no bairro, e quem lá mora gosta de lá morar. Talvez devido a ser um bairro já com uma certa idade, o pequeno comércio está enraizado e os seus cafés estão sempre frequentados.

Vizinhos no verdadeiro sentido da palavra.



Casal da Mina

Este bairro foi construído em 2005 com o objectivo de realojar os moradores da Azinhaga dos Bezouros. É um bairro social de 700 fogos, constituídos maioritariamente por famílias Africanas. Quando se fez a distribuição dos fogos, a Câmara não se apercebeu que estava a meter no mesmo bairro gangs rivais… É um bairro onde há bastante tráfico de armas e de mulheres, porém aparentemente era bastante calmo. Dada a sua dimensão, está bem servido de transportes públicos que andam mesmo dentro do bairro, não se limitado a ter uma paragem à sua entrada, como nos outros bairros sociais anteriores.
Talvez devido às etnias que o habitam, os moradores ocuparam um terreno para uma horta para consumo próprio.
A construção de um mega-centro-comercial mesmo ao lado do bairro, trará muita oferta de emprego para os seus moradores, e irá fazer com que haja mais pessoas de fora a viverem este bairro.

O cuidado a ter com a distribuição das famílias realojadas. O comércio como impulsionador da vida de um bairro. A presença de transportes no interior.



Esta visita de estudo teria sido bastante diferente se não fosse o acompanhamento das técnicas da Câmara Municipal da Amadora que apresentaram os bairros de forma sábia e enriquecedora.
Para mim, esta visita de estudo foi extremamente importante para a minha formação. Deu-me uma visão geral do que não se deve fazer nalguns casos de realojamento, e a percepção de como o urbanismo pode ser tão importante nas relações sociais dos habitantes, e ao mesmo tempo ser uma ferramenta de intervenção na melhoria da qualidade de vida.

"Faça as coisas o mais simples que puder, porém não as mais simples." Albert Einstein
"O barato sai caro."


20 de Outubro de 2008
Sociologia Urbana – Engenharia do Território - Instituto Superior Técnico


fotografias de José Lopes

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