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quarta-feira, 17 de maio de 2006

1º prémio 

Há certa magia no ar quando a noite se impõe ao dia que acaba. Estou ainda a regressar a casa onde te encontrarei atrás do balcão da cozinha, aquele que “-Tem uma cor horrorosa que a tua mãe escolheu! Se eu tivesse escolhido, tínhamos comprado a pedra em tons de cinza!!”. Estarás de certeza excepcional com o teu cabelo acobreado apanhado. Da cozinha emanará um cheirinho a comida acabada de fazer que me envolve de cada vez que entro nas escadas deste prédio para te encontrar. Não te limitarás a fazer um bife com batatas fritas. Assim que entro no prédio sei que estiveste durante a tarde a trabalhar numa obra de arte gastronómica. Dir-me-ias sorridente “ – De todas as artes que me possas enumerar, a comida é a única que te alimenta verdadeiramente a alma.” Acenaria a cabeça em gesto de aprovação. Não és poeta nem trovadora, sei que aprendeste essa frase num filme com o Richard Gere, mas finjo-me deslumbrado com as tuas palavras… e na realidade, a maneira como elas se escapam da tua boca e passam pelos teus lábios, conferem a qualquer som que conheça um significado tão meu, tão somente meu.
Apesar de ter carta de condução, renuncio aos prazeres da comodidade do meu Clio. Nos dias que correm, a cidade de Lisboa não me permite estacionar o meu carro onde desejo. Evito o stress de não ter um lugar onde parar o meu carro, e opto pelo metro e pelo autocarro. A esta hora do entardecer estou no metro, a ler o jornal, enquanto as estações se sucedem e uma voz robótica anuncia a próxima estação. Nunca percebi porque razão aqueles minutos debaixo do chão me deixavam um pouco desconfortável. (Nunca fui claustrofóbico. Lembras-te da nossa visita às grutas? Disse-te que se fosse preciso chegava ao centro da terra, onde a pressão é tão elevada, que nem os materiais se encontram fundidos. Disse-te que aí, com a única e exclusiva força do meu amor por ti, derreteria o ferro e o níquel por ti! (Sempre tive uma tendência de verbalizar o meu sentimento por ti de uma forma “foleira”, como tu me dizias).
Talvez a razão de eu me sentir tão desconfortável são as expressões carrancudas que me rodeavam. Expressão daqueles que como eu, pareciam voltar a casa depois de mais uma sexta-feira extenuante. A proximidade do fim-de-semana não se manifesta em nenhuma das caras que observava naqueles escassos minutos.
Sinto-me a voltar para ti. Tu. O único refúgio nesta cidade maluca, nesta Lisboa que cada vez mais se torna minha desconhecida. Outrora minha confidente, Lisboa fecha-se agora em copas em longas noites de Inverno como a que hoje se adivinha. Já não é seguro descer o Parque Eduardo VII. Ultimamente, limitar-me-ia a ir contigo ao Jardim Amália Rodrigues no cimo do Parque, em tardes solarengas.

Há certa magia no ar quando a noite se impõe ao dia que acaba.
Tu, assim como eu, notavas a sinfonia que existia no ambiente, à medida que o sol se escondia. Tu, assim como eu, sabias como tão harmoniosamente os planetas se alinhavam com as estrelas. Tu, assim como eu, compreendias a importância da noite na cidade de Lisboa. Tu, só tu.
Estou agora a dirigir-me à paragem do autocarro. Em dias frios, esperava pelo 27 no Largo do Rato. Dentro do autocarro vou embalado até à porta de nossa casa, onde eu sei que tu me esperas. Ao subir até ao terceiro andar penso numa maneira de te cumprimentar, porque afinal, estivemos separados durante algumas horas do nosso dia (ou terão sido muitas horas…?) No dia de hoje, vou escolher um rasgado sorriso com um simples ‘olá princesa’ enquanto te envolvo nos meus braços e tu me contas as peripécias do teu dia.
Subo as escadas do meu prédio. Ao passar pelo primeiro andar, vejo que a porta está aberta e várias malas estão à porta. Não me distraio mais, neste momento vou galgando os degraus três a três, porque a vontade de te abraçar é agora maior do que alguma vez foi! Subitamente, parece-me que não te vejo há muito mais tempo, e que a memória do café que tomámos esta manhã está mais distante de mim, que a ópera de Sidney.

O meu inglês nunca foi grande coisa. Pouco mais sei articular do que “Good morning!” e “ Sean Connery”. Ao contrário de mim, tu sabes manejar a língua como ninguém que eu alguma vez tivesse conhecido, exceptuando os nativos, obviamente. Falas tão bem inglês como português e muitos dos livros que enchem as prateleiras da modesta biblioteca da nossa sala virada para o Tejo, têm títulos que eu só com muito esforço consigo decifrar. A tua mesa-de-cabeceira enche-se de livros que tu rapidamente devoras (nem eu sei bem como) por entre os segundos, os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses de um ano.

Estávamos casados há pouco mais de oito meses, quando fomos a Sidney na Austrália pela primeira vez. Como qualquer casal recentemente casado, ansiávamos por saber o que o futuro nos reservava. Tu vestias-te sempre com cores vivas, espelho da tua alma colorida. Encarnado, cor-de-laranja, cor-de-rosa, verde-claro, azul-turquesa eram as cores das paredes do teu espírito e o que me havia deslumbrado em ti no dia em que nos conhecemos, uns meses antes de nos casarmos. A viagem à Austrália foi um misto de conhecimento, cor, espaço, sorrisos e gargalhadas. Ávidos por tentar ao máximo tirar partido dos dias da nossa primeira viagem a dois, aproveitámo-nos da paz de espírito que um país distante nos fornecia. Fotografias a preto e branco. Nelas ficou espelhada a alegria que emanava da tua pele e do teu rosto jovial.
Chegados à nossa querida Lisboa, pouco tempo depois, começaste com ligeiros enjoos. Uma consulta de rotina e uns testes depois, disseste-me que possuías ‘um segredo’.
A chave entra na fechadura da nossa casa. Uma volta, duas voltas… três voltas? Estranho…estás sempre em casa a esta hora. À sexta-feira vens mais cedo para casa, o trânsito da cidade de Lisboa provocado por aqueles que saem da cidade, faz-te fugir à confusão logo depois da tua hora de almoço. A porta abre-se com um ligeiro clic. Que me lembre, a porta sempre tinha sido silenciosa e nunca tinha feito qualquer som ao ser aberta. Lembro-me dos dias em que trabalhava até tarde e que voltava para casa pelas ruas desertas da cidade, para ti e para a nossa cama, sem fazer um único som, sem te perturbar no teu sono calmo. Entro em casa. Dou-me conta que não há o cheiro no ar a comida pronta e acabada de fazer. Talvez tu tenhas decidido ir jantar fora. Várias vezes tínhamos ido jantar fora anteriormente a uma sexta-feira.
Numa dessas sextas-feiras em que me levaste a jantar fora à Portugália em frente ao rio Tejo, revelaste-me o teu segredo.
“- Trouxe-te aqui esta noite, não com o simples propósito de comermos marisco fresco! Trouxe-te aqui esta noite porque preciso de te revelar o meu segredo, o nosso segredo.”
Nesta altura, passava um cacilheiro. Ao que parece, nenhum de nós se deu conta. Um empregado deixou cair uma bandeja. Nenhum dos dois se deu conta. Os camarões poderiam ter saltado dos nossos pratos, que certamente nenhum dos dois iria reparar.
Perante mim e sabedora do meu nervosismo, disseste-me que eu não estava a olhar para ti como uma vida, mas sim para duas vidas. Estupidamente, os nervos taparam-me a razão. Não compreendi o que me estavas a dizer.
“- Então?? Digo-te que vamos ser pais e essa a tua reacção?” perguntaste com um sorriso trocista. Aquilo que eu mais queria era ter uma menina chamada Maria. Só Maria. Não me lembro de mais nada dessa noite. A euforia tomou conta dos dois e durante os três meses seguintes a nossa morada parecia ter-se elevado até às nuvens do céu que sobrevoava Lisboa.
Não. Não. Não! Não estás em casa! Percorro as divisões do nosso apartamento. O quarto, a sala, a cozinha, a varanda, não há estante e nem sequer há livros! A casa está vazia. Vazia de móveis. Vazia da tua cor. Vazia de ti. Quando saíste tu? Quando partiste tu? O sol já não entra pelas janelas da nossa casa, a nossa casa encontra-se vazia de tudo. O mesmo vazio que tinha sentido quando me levaste ao Jardim da Estrela numa noite mais fria que o habitual.

Nesse dia tinha chegado a casa mais cedo do que era costume. Ultimamente não andavas muito bem. Tinhas-me telefonado para o escritório da Almirante Reis a pedir-me para ir mais cedo para casa. Notei o nervosismo na tua voz e perguntei o que se passava. Não me quiseste responder. “- Vem só para casa assim que puderes, por favor.” A tua mãe não estava muito bem de saúde. Os médicos já tinham pedido muitos exames, mas ao que parece não se conseguia descobrir a causa do cansaço frequente da tua mãe. Tive medo que alguma coisa de grave se passasse com ela. Despachei-me assim que pude e fui de táxi para casa tal era a vontade de chegar junto de ti. Quando cheguei já estavas à porta. Nunca te perguntei como sabias que eu estava mesmo a chegar. Levaste-me pela mão até ao Jardim da Estrela. Apesar do frio que se fazia sentir, as tuas mãos suavam como se fosse pleno Agosto na cidade deserta de Lisboa. Durante esses dez minutos, não dirigimos uma única palavra. O céu estava carregado de nuvens. Pela tua cara sabia que tinhas estado a tarde toda a chorar. Não sei sequer se tinhas ido trabalhar à tarde, mas naquele momento pouco me interessava. Estavas extremamente cansada. Avançavas como se tivesses sido vítima de uma qualquer doença súbita e parecia que te era mesmo difícil colocar um pé à frente do outro. Quebrei o silêncio. Pedi-te para regressarmos a casa. Respondeste “ – Não. Em casa não por favor. O jardim.” Percebi que não valia a pena contrariar-te. Peguei em ti, como se de uma noite de núpcias se tratasse. Levei-te nos meus braços até ao jardim. Com a tua cara deitada nos meus ombros, toda tu tremias. Lembro-me de pensar que aquele frio cortante não havia de fazer bem à bebé que se formava dentro de ti. Uns passos mais à frente entrámos no Jardim da Estrela. Estava vazio como as ruas que tínhamos percorrido. Quiseste ir para o chão. Escolheste um banco escondido e assim que te sentaste começaste a soluçar. Fiquei com um nó enorme na minha garganta. Abracei-te e perguntei-te o que se passava contigo. A muito custo perguntei-te pela tua mãe. Começaste a chorar. Disseste-me que a tua mãe estava bem. Tinhas falado com ela de manhã e os médicos tinham descoberto que a razão do cansaço dela era uma forte anemia, que podia ser controlada. Nenhuma parte de mim sentiu alívio. Disseste que a seguir tinhas ido à consulta mensal, levaste a mão à barriga, pediste-me desculpa e recomeçaste a chorar. Senti um golpe no estômago. De repente algo se desmoronou à minha volta. O vento uivava nas folhas das árvores. Não fui capaz de te abraçar logo. Olhei para ti e parecias-me mais indefesa do que nunca. Num súbito rasgo de lucidez abracei-te e ali ficámos até a madrugada nos envolver.
Não suporto que esteja a acontecer tudo outra vez. Não suporto ver esta casa desprovida da tua alegria contagiante, minha querida. Nunca lidei bem com a morte e não posso nunca acreditar, nem aceitar que possa ter chegado a tua vez. Não suporto ter que aceitar que partiste. Tenho que sair desta casa. Corro até ao meio da rua desvairado, e corro até ao nosso jardim na ânsia que tu estejas lá sentada à minha espera. Uma sensação de loucura apodera-se de mim, querida. Eu sei que vais estar lá sentada num banco qualquer, eu sei que vais lá estar. Corro na rua mais rápido do que é possível a um homem. Estranhamente, ninguém me vê. É sexta-feira, final do mês, e na papelaria por onde passo, furo uma fila enorme de pessoas que esperam pela sua vez de comprar o passe para os transportes públicos. Não sei por que razão ninguém repara em mim. Não sei porque não se apercebem da minha loucura. Atravesso a estrada descuidadamente, mas ninguém repara. Entro finalmente no jardim. O meu olhar perscruta tudo aquilo que me rodeia. Procuro sinais da tua presença. Apercebo-me que não te vejo há muito tempo. Apercebo-me que o café da manhã que tomei contigo não pode ter sido há umas simples horas atrás. Não pode ter sido. Afinal de contas, mal me lembro desse café, não sei o que comemos, não sei o que trazias vestido. Estou confuso. Não sei quanto tempo demorámos a tomar o pequeno-almoço, lembro-me apenas de ter renunciado aos transportes públicos e de pegar nas chaves do carro. Lembro-me de ter entrado no carro dirigindo-me à Almirantes Reis. Todas as recordações do resto do dia desapareceram.

Ah, aí estás tu sentada no banco, minha querida!
Mas estás mudada… pareces-me mais velha, o teu olhar é agora mais profundo, como se algo te tivesse acontecido. Dirijo-me a ti, querida. Chamo o teu nome. Não me ouves. Ninguém me ouve. Aproximo-te de ti. Estou cada vez mais perto e a minha voz não parece perturbar a tua concentração. Olhas para o parque. Para onde olhas tu, querida? Porque não me vês? Porque não ouves o som da minha voz. Sento-me ao teu lado, toco os teus cabelos acobreados. Continuam bem tratados e com o mesmo cheiro a frutos de sempre. Por momentos tenho a ténue ilusão que nada mudou nas nossas vidas.
Sinto-me como quando chegámos a casa depois daquela noite no Jardim. Soubemos recomeçar tudo de novo. Soubemos viver com o facto de que já não iríamos ser pais, pelo menos por enquanto. O sonho continuava vivo entre nós, haveríamos de ser pais em breve. Muito em breve. Nesta altura trabalhávamos mais que nunca. Afogávamos as nossas mágoas não um no outro, mas nas dificuldades laborais do dia-a-dia. Mas conseguimos ultrapassar tudo e a vida recompôs-se mais depressa do que poderíamos supor. Rapidamente as tuas gargalhadas voltaram a invadir a nossa casa, que voltou a estar colorida. Uma sensação de leveza enorme…

No entanto, não é essa leveza que sinto agora. Neste momento em que me encontro a teu lado, tenho a certeza que algo não está certo, minha querida.
Falo contigo, mas tu não me respondes. Abano-te, mas pareces não te dar conta. Não sei o que se passa. Corro de encontro a todos aqueles que nos rodeiam e abano-os um a um. Ninguém dá conta da minha presença. Ninguém se apercebe que eu existo. Será que eu existo? Contemplo-te bela como sempre. Sorris, parece que descansas com a certeza que tudo está no seu lugar.
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Pedro,
Não consigo perceber o que nos aconteceu, o que me aconteceu, o que te aconteceu. A raiva tem sido o sentimento que me tem consumido desde que tu partiste da minha vida. Sozinha, tenho enfrentado a vida desde que tu me deixaste. Não podes sequer imaginar como tem sido difícil sem ti aguentar os dias, e os últimos anos. Parece-me ainda que foi ontem que soube que tinhas morrido. Ainda hoje não o aceito, ainda hoje vou para casa a pensar que tu mais tarde virás ter comigo, que sairás do trabalho e me encontrarás atrás do balcão da cozinha atarefada com os meus cozinhados malucos que te possam satisfazer depois do teu extenuante dia de trabalho. Lisboa já não está como dantes. Já não é a mesma cidade e já não significa aquilo que significava quando tu ainda eras vivo. As ruas que percorríamos juntos não são mais as mesmas a meu ver. O nosso Jardim da Estrela mudou. As árvores não são as mesmas. A esplanada já não é a mesma. A Maria gosta muito de lá ir, tem muitos amigos que como ela saem da escola e vão com as mães, algumas com os pais, brincar nos escorregas e nos baloiços. A Maria tem os teus olhos. No dia em que nasceu, a tua memória foi mais forte do que nunca. De certa maneira ela tem sido para mim a continuação da tua existência. Com ela ao meu lado, sinto que nunca partiste. Já não choro todas as noites. Chorar por ti já não me parece justo. A tua presença junto de mim, está bem mais perto quando volto a sorrir, e quando visto as minhas camisolas encarnadas que tu me gabavas. Bem sei que tu tinhas uma ligeira ponta de vergonha de sair à rua com uma mulher que parecia o arco-íris! Não o tentes negar. Bem sei como te deixei embaraçado daquela vez que fomos jantar com o teu chefe e a mulher dele. Que mulher detestável, Pedro!
A Maria pergunta-me muitas vezes por que não tem o pai ao pé dela e por que nunca o viu. Tem uma fotografia tua na mesa-de-cabeceira dela e diz que tu és muito bonito para um menino. As outras amigas do colégio dizem-lhe que um pai é sempre preciso para ‘uma menina crescer e ficar grande e saudável’. Na verdade, não sei bem o que lhe responder quando me pergunta por ti. Para a idade dela, a Maria já é bastante perspicaz, e a desculpa que lhe dei nos primeiros tempos de que o pai foi viajar já não a satisfaz. Pedia-me explicações constantemente e começou a ter uma certa raiva de mim, porque todas as outras amigas que ela conhecia não tinham um pai que estava sempre a viajar. Disse que me odiava, e que, acima de tudo, te odiava, Pedro, e rasgou a única fotografia tua que eu lhe tinha oferecido. Foi a primeira vez que bati na nossa filha. Senti um calor a subir por mim acima, o meu rosto ficou quente, levantei a minha mão e bati na cara da nossa filha. Não com muita força. A Maria olhou perplexa para mim e correu para o quarto a chorar sem perceber muito bem o que tinha acontecido. Agarrei na tua fotografia rasgada e passei o resto do dia e a noite inteira a colá-la e a tentar deixá-la imaculada.
À medida que os anos têm passado por mim, as memórias de ti vão-se desvanecendo na minha mente. Luto contra isso, olhando as tuas fotografias e fazendo um esforço sobre-humano para me lembrar da textura suave das tuas feições. Durante uns dias, eu ouvia chorar baixinho no quarto ao lado onde ela se encontrava. Dada a situação insustentável na nossa casa, decidi contar o que realmente tinha acontecido. Numa tarde de Domingo sentei a Maria no sofá da sala e pedi desculpa por ter mentido. “- Mentir é muito feio, mamã!”. Contei-lhe tudo o que me lembrava sobre ti, contei-lhe como eras simpático e alegre e como ela era filha do melhor pai do mundo. Creio que incuti na Maria um sentimento de orgulho em ti que ela nunca mais vai esquecer por mais anos que viva. Contei-lhe do acidente. Apenas lhe disse que ias num carro numa manhã para o trabalho e que o carro chocou e que tu ficaste muito magoado e que tinhas ido para o céu. Não me parece que ela tenha percebido muito bem o que eu quis dizer, e por uns meses tive a sensação que mais valia tê-la deixado na ignorância, pensando que o pai se encontrava num qualquer sítio distante. Nesta altura resolvi mudar de casa. Para um apartamento mais pequeno ao pé de casa dos meus pais. Empacotei definitivamente as tuas coisas. Não mais podia viver numa casa que cheirava ao teu perfume, Pedro. Era demasiado doloroso. Por tudo isso resolvi começar uma nova vida juntamente com a nossa filha. As duas temos conseguido viver muito bem. Ficarias surpreendido se visses como eu já ensinei umas palavras de inglês à nossa filha. Não é por ser nossa filha, mas como já te disse, julgo que ela é excepcionalmente esperta.
Escrevo-te esta carta hoje para manter viva a tua memória.
A Maria chama-me da porta. Já tem o casaco vestido e está pronta para ir brincar para o Jardim. Já é quase noite, mas decidi aceitar este pequeno capricho dela. Ela diz que gosta da noite. Diz que a noite é mágica.
Pedro querido, aparece por lá, se puderes. Onde quer que estejas, irei sorrir à tua passagem.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Enigma 

Tens 2 fios (rastilhos) do mesmo tamanho mas com diferentes propriedades. Tens um isqueiro. Não tens relógio.
Cada rastilho demora 1h a queimar, com variação de velocidade irregular.
Queres saber quanto tempo é 45 min.
Aceitam-se sugestões!



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